sábado, 30 de abril de 2011

XXX

[De quem serão? eis a incógnita. imagem retirada da net com a pesquisa "lábios carnudos". Somos desconhecidos uns dos outros. Desconhecidos permaneceremos de nós próprios]. Uma história. Sim. Uma história do humano. [Uma história de outros tempos]. Reconverte-se, transcreve-se possivelmente na íntegra as palavras da história. Interioridade. Exterioridades. Numa altura em que o fim do mundo se anunciava, resolveu passar mais um serão, agradável posssivelmente, [sentado na cadeira] à frente da secretária, com livros de um lado e de outro, aquele que de momento necessitava para o trabalho que em mãos tinha, com papéis de rascunho, para depois de novo transcrever a escrita [no respectivo cadernos quadriculado e só no final no] computador, como se definitivos fossem, chegando apenas à conclusão que nada é definitivo, tudo é alterado, alterável, até nós, [todos se alteram]. [Transformação]. Faz parte da vida. E assim o serão se desenvolveria, possivelmente apareceria o amigo de sempre com a namorada, por sua vez a namorada trazia uma amiga [e] às vezes nem isso. [Fiz de Freud a muitas dessas namoradinhas...] A televisão se liga, o som se baixa, de preferência [coloca-se] música, rádio, [ou um cd], faz uma enorme companhia, sempre fez, a música que sempre pululou pelo espaço de sempre, que ele tão bem conhecia como as suas mãos, não haverá pessoa nenhuma neste mundo que conheça o seu espaço tão bem como as suas mãos, aliás, quem é que não conehce o seu próprio espaço, numa desarrumação arrumada que só [os habitantes dos espaços entendem], tudo no seu devido sítio, os objectos de sempre, mais alguns vêm e virão, e todos com a sua história, [assim se torna místico o nosso espaço à nossa imagem e semelhança]. E assim lá pensou em escrever um ensaio sobre o amor, mas para quê, tanta coisa já escrita, e sublime, [tantas palavras e tantos livros], escrever mais para quê, ainda por cima um ensaio [que pretensiosismo], mas tal não lhe apeteceu, não estava com forças para tanto, podia até citar os seus escritores de sempre, os seus filósofos de sempre, quem sabe, era só ir aos caderninhos de capa preta com linhas quadriculadas, os preferidos de sempre, elas habituaram-se a ele, ele habituou-se as elas, às linhas, claro. Não lhe apeteceu, pois então, falar de amor, conforme queiram, essa palavra tão gasta, e tão cheia de confusão nas mentes humanas, e para si próprio repetiu que gostava mais era do amor em si, do que da paixão, apesar de não ser mau, não senhor, tem um defeito a paixão, acaba por ser doentia, desgastante, e o amor, bom, isso é outra história, nasce sabe-se lá de onde, complicado, duradouro quando duradouro é, de doente nada tem. Agora sózinho uma vez mais já não acredita nessas coisas, do amor, da paixão, das amizades, puf!, mas quem sabe, um dia destes tornará a gostar de alguém e depois alguém que de nós gostar venha e assim a luz do fundo do túnel que se reacenda, porque vivos estamos, claro. Tinha um amigo, daqueles esporádicos, se tais amigos esporádicos amigos se podem chamar, melhor será dizer conhecido, às tantas não, afinal de contas quantos amigos e amigas verdadeiros e verdadeiras nesta vida teremos, [e a cada passo] lhe dizia, ao seu jeito tipo machão e de menino inocente que as mulheres são um bicho apetitoso, ai, ai, salvo seja, bolas, até podem ser, o que elas não dirão de nós homens, às tantas que também deveremos ser bichinhos apetitosos, e que a única coisa a que a um homem pode acontecer ao tentar beijar uma mulher, e sei lá que mais, é levar um estalo, chiça! Essa do estalo tem muito que se lhe diga, e um dia, ao lado de outros tantos dias já passados, , um dia julgou sentir intuitivamente que a mulher que a seu lado estava um beijo pedia, sentiu-o [aquelas coisas que se sente], pois, alarme falso, intuição falsa, tentou pois beijar aqueles lábios carnudos e morenos, sensuais e saborosos, apetitosos, [vá lá, quentes] e em poucos segundos, milésimos de segundo, uma mão se levantou como se de um raio se tratasse, e assim, sem mais nem menos, aquela mão poderosa até à sua face voou tempestuosamente, e com tal gesto de lado andou e até estrelas viu! Depois lá questionou a menina o porquê de tantas agressividade, Não o querias, e ela, Querer até queria, mas não no sítio onde estávamos - afinal de contas a intuição não tinha falhado! -, no jardim, depois consigo próprio falou, que estupidez, o beijo, o estalo, ora, o jardim, não se via ninguém, um menino sempre tão bem comportado, ora vejam só, e depois, bem, podia ter sido algo bem pior, sei lá, nem se pretende imaginar, e depois a menina sempre queria o beijo, desejava ser beijada, vá-se lá compreender as mulheres, querem e não querem, e elas dizem, as mulheres querem ser amadas, ah!, e elas dizem, vá-se lá compreender os homens. às vezes lá escutava as notícias, suicídios de amor e de sumptuosas paixões que levam ao outro lado do ser humano, ao pior do que o ser humano tem, a agressividade, o poder sobre o outro, tanto eles como elas, e sabe-se lá que mais, as mulheres nem sempre são as santinhas, todo o género de atrocidades deste mundo quandi o assunto de amor se trata, e assim esta vida lá vai caminhando, uma vida sem sentido às vezes, outras vezes com um bocadinho de sentido, ah, este mundo que não é mundo, talvez seja, mundo, definitivamente mundo, tudo passa por ser e ter um choque de sabedoria, há quem a tenha, há quem a não tenha, e assim bem pode continuar a teorizar com as suas deambulações filosóficas e literárias e do mundo que com ele vem ter e ao mundo vai ter, entre o teórico e o prático, para tentar descobrir uma verdade que é um não sei quê que ainda ninguém consegui descobrir, o que pulula entre os homens e as mulheres, que as mulheres conquistam, que os homens conquistam, o cativar mútuo. Mas hoje não queria saber nada disso, não escrever nada de nada, apenas ler um pouco e descansar, sim, descansar. O estalo arrasou-o. [Há estalos e estalos que não estalos!]


sexta-feira, 29 de abril de 2011

XXIX

a meio da tarde o dia começou a ficar cinzento [e no comboio em que transcrevo os gatafunhos das palavras [escritas na esplanada de um café em frente a são bento] no comboio, fresco]. no início da tarde até estava agradável, apesar de um tempo de trovoada [a meio do caminho eis a chuva]. e quando falo que o dia estava cinzento, não se trata de uma metáfora, pragmática ou abstracta, apesar do que poderá vir no futuro destas linhas. hoje fui ao porto em serviço na busca de documentação para o roteiro republicano de vila nova. não só completar a busca, como igualmente recolher a documentação já investigada e digitalizada. do roteiro, já se pode adivinhar a minha tarefa: fiquei com a imprensa, a literatura e a cultura. [Estou com imensa curiosidade de ver o material] [já em casa, depois do jantar, vi, e não gostei, muito mal digitalizada e fiquei com a impresão que ainda falta muita documentação, amanhã confirmo nas calmas, entre a sesta e a leitura]. mas não sei porquê, apeteceu-me ir ao guarany tomar café e beber uma água fresca para retemperar as forças. antes do guarany, o magestic, só que a esplanada estava repleta. não tinha hipótese em ficar. a intenção [tal como o fiz no guarany, sem tirar fotografias] era parar um pouco e tirar umas fotos [nem no magestic nem no guarany] e pasar os olhos pelos dois livros novos. não deu. desci e fui parar ao guarany. mas hoje fiquei saudoso [nostálgico] de um fi-de-semana já passado, com uma amiga no porto. e, às vezes, mutuamente por idiotices, incompreensões, talvez depois de indiferenças, más compreensões do que se diz, ou então ainda por um estúpido orgulho, a vida lá continua, em companhia ou com companhia amorosa. [amorosa?! talvez sim, talvez não!] [desejo?!] a vida do mundo, o mundo na vida. mas a minha primeira paragem foi na latina e lá tinha o livro de manuel gusmão "tatuagem & palimpsesto". numa [leitura de relance, aquela que se chama de vertical] a aventura da crítica literária promete, neste caso me roda da poesia. ganhou recentemente o prémio de ensaio eduardo prado coelho instituído pela câmara municipal de vila nova de famalicão e a associação portuguesa de escritores. na minha frente, a vida no mundo. o porto está cheio de turistas e nada de portuenses. também comprei de vitor bento "economia, moral e política" folheio o breve capítulo intitulado a crise de valores. e noto que há [o falso argumento] um consenso generalizado , de que é devido há falta das referências religiosas que existe essa mesma crise. puro engano. não se trata só da falta das referências religiosas. [elas até existem em demasia, podem é estar deturpadas!] os valores estão ao contrário na própria sociedade em completa transformação há já alguns anos. o que hoje é, amnhã, ou daqui a cinco minutos, já não é. o que se deve dizer, não se diz. vivemos numa sociedade paradozal [que se busca cada vez mais a si própria] e de exageros. isto é um breve apontamento [nota final: a fotografia que coloco do porto é de um outro tempo, que não este].

sábado, 23 de abril de 2011

XVIII





o dr. manuel sá marques, sempre atento aos meus blogs, e relativamente ao comentário que aqui deixei um dia destes a propósito da relação da arte com o cristianismo, enviou-me estas duas imagens fantásticas: o primeiro quadro é de chagall e o segundo de emil noide, ambos representando a crucuficação, um tema sempre aberto a novas interpretações estéticas, filosóficas e artísticas. um bem haja!





sexta-feira, 22 de abril de 2011

XXVII

no facebook apareceu um portal com a divulgação de descobrirmos a nossa vida passada; e fiquei com curiosidade. lá cliquei e apareceu uma série de questões a que tinha de responder. fiquei perplexo! apesar de não acreditar muito nestas coisas, ao menos tirei a minha curiosidade. não é nenhum pecado tirarmos a nossa curiosidade. e fiquei perplexo por aquilo que poderia ter sido em outra vida. vejamos o resultado que encontraram a meu respeito, após ter respondido às perguntas que o respectivo portal me ía colocando. começa assim: nos segredos da história está o movimento secreto denominado cavaleiros reais. pertenci a este grupo de cavaleiros. o rei, não diz qual é, nem identifica o país, nem qual a época histórica, criou um grupo de cavaleiros com a missão de viajar por toda a europa para que esses mesmos cavaleiros trouxessem as notícias dos conspiradores que o pretendiam derrubar. para além da missão política do grupo, havia também a missão de adquirir conhecimentos sobre a vida intelectual, científica, cultural e a mentalidade dos países por onde passasse. e depois, pelos vistos, parece que tive o privilégio de privar com os melhores, não só no plano cultural e intelectual, mas também com os melhores cavaleiros da europa que me ensinaram a combater. foi a aprendizagem física e mental perfeita numa viagem interminável que me deu novos conhecimentos para um intercâmbio a todos os níveis. ora o que esta realidade de mim diz é que tenho uma capacidade de aprendizagem fácil, assimilo rapidamente os conhecimentos, sobrevivo em ambientes hóstis devido a uma inteligência derivada de tácticas aprendidas com os melhores do meu passado. no fundo, não só uma inteligência prática, mas também teórica. quem diria!!! não está mau.

terça-feira, 19 de abril de 2011

XXVI

Ao lado de Manuel Pinto de Sousa (Tipografia Minerva e "Estrela do Minho"), Joaquim José da Rocha (Tipografia Aliança e um sem número de títulos que publicou na imprensa famalicense), de José Casimiro da Silva ("Estrela da Manhã" com o seu Centro Gráfico), de Rebelo Mesquita (com o seu "Jornal de Famalicão"), faleceu recentemente Virgílio Rego, o último dos decanos dos jornalistas famalicenses, com o seu "Notícias de Famalicão" e a sua Tipografia Central. Na hora do almoço, não o vendo já há algum tempo, ainda falava com ele. Era encontrá-lo na Praceta em frente da Fundação Cupertino de Miranda. Numa das últimas conversas, ao tempo que isto já lá vai, dizia-me, Então como vai o jornalista Gonçalves?, e eu dizia-lhe, sr. Virgílio, não sou jornalista, meio sério, meio a brincar, e respondia-me em tom sério, Não escreve para os jornais? Então é jornalista! Fica aqui a minha memória para o último dos decanos dos jornalistas de Vila Nova.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

XXV


estamos na páscoa. época de renovação. época de um segundo baptismo. época de um segundo rejuvenescimento. não parece. como se não bastasse a poluição sonora na época natalícia, no carnaval, na festa popular, a poluição sonora permanece. virou moda. parece que estamos perante um histerismo colectivo silencioso. o que temos também é uma fraca estética representativa, uma fraca estética pictorial a representar cristo. se estamos numa época de renovação, ao menos poderiam entregar essa mesma estética pictorial aos pintores famalicenses, ou então novas representações escultorais, e assim aos escultores famalicenses, unindo assim a comunidade. talvez cristo fique assim mais leve. já não estamos em tempo de imagens pictoriais pesadas. ao menos poderiam ter mantido as imagens escultóricas, algumas delas belíssimas, da minha infância. que falta de gosto!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

XXIV


numa altura em que o benfica uma vez mais cedeu e o f. c. do porto vai de vento em popa e já consagrado campeão desta época, e aproximando-se a colecção não-nobel do público com scott fitzgerald "terna é a noite", folheio o mesmo jornal que abre logo na sua primeira página com o congresso do último fim-de-semana do partido socialista em matosinhos. durante o mesmo fim-de-semana, lá ía acompanhando aos poucos o mesmo congresso, ou na rtpn ou nas notícias das oito. o que fica do país do real é a questão do jornalista a um cidadão, já não me lembro da localidade, que veio naquelas caravanas de autocarros, e que foi esta: o que acha da vinda do fmi? responde o cidadão, Sei lá o que isso é! se esta não foi a resposta, está parecida. se, por um lado, o discurso de sócrates no encerramento do ciongresso revela o seu discurso de optimização perante si próprio, pior que salazar não poderíamos ter encontrado melhor nestes tempos de democracia, portugal idêntico a si próprio e só consigo próprio, longe do país do real, foi o discurso, uma vez mais, da vitimazação: o culpado não é ele ou o partido socialista, os outros, os da esquerda e da direita, compreenda-s, o psd, pela não concretização do famoso pec4 e da consequente dissolvência da assembleia da república e do parlamento. o discurso de passos coelho, dizem os socialistas, neo-liberal, estamos perante um psd neo-liberal, acaba por não convencer. falta estratégia, a coerência. não é com um discurso demagógico, sócrates aqui vence passos coelho, tipo se o partido socialista ganhar as próximas eleições o país afundar-se-á, jungando passos coelho que isto não pode ser possível. tudo está em aberto e num passado recente os portugueses já deram exemplos fantásticos, caso de felgueiras e de isaltino. não é com um discurso tipo, eles, os socialistas, é que não se compremeteram com o acordado. entre a verdade e a mentira de uns e de outros, fica simplesmente o discurso real, a simulação social. pior que a demência social (a pobreza ou o desemprego), é a demência mental e de instrução, de conhecimento. não devem faltar mais exemplos por este país fora do exemplar cidadão socialista. mas o que fica definitivamente por rastos é o discurso da cidadania de fernando nobre que alcançou prestígio nas últimas eleições presidenciais, ficando sem sentido. o partido socialista piscou-lhe o olho, assim como o psd. ganhou o psd nas piscadelas a fernando nobre. a coerência e o carácter entre o que se afirma e o que se faz está patente no exemplo de nobre, que pretendeu a plena cidadania da ética. falhou simplesmente. ficamos por aqui

domingo, 10 de abril de 2011

XXIII


diz-nos agustina que as mulheres convidam os homens para o amor. e os homens não convidam as mulheres para o amor? qual a diferença?

XXII


apontamentos ontológicos. pretendo referenciar aqui o seguinte: se nós nos ouvirmos (o "nós" é global", não apenas o nosso), se soubermos escutar, vivenciar os problemas desta existência às vezes sem nexo, permanetemente haverá um questionamento não só com a nossa interioridade mais profunda, onde mais ninguém toca [talvez alguém], e chega, surgirá então toda a nossa nudez humana [com os outros e perante os outros]; e quando moisés foi interpelado por deus, descalçou-se, tornando-se ele próprio na sua interioridade com o invisível,a verdade do humano, da sua e da nossa verdade, [da do mundo]. a simbologia dos pés descalços tem a ver, enquanto imagem simbólica, com o caminho e a viagem do humano para atingir a possível verdade [nas várias verdades], a sua no mundo, a nossa no mundo, nos dois mundos [um real outro ficcional]. atinge esta harmoniosa caminhada o viajante não pela razão, na medida em que os problemas essenciais da vida humana a razão não consegue clarificar, desnudar, mas, isso sim, pela sua inteoriodade, pelo nú[deza] de si própria, pela nosa nudez sem máscara [utopia] para estarmos connosco e com os outros. falta referenciar, edificar o que deus na sua luz incandescente disse a moisés: "eu sou o que sou". somos o que somos simplesmente. eis a grande metáfora do humano, outra, cheia de máscaras, de enganos. ninguém é aquilo que é. [tenta-se ser o que se pretende ser].

quinta-feira, 7 de abril de 2011

XXI


os dias lá têm as suas surpresas. as surpresas dos dias. o dr, manuel sá marques teve a amabilidade de informar a publicação de um estudo de eugenio otero urtaza intitulado "bernardino machado e francisco giner de los rios entre 1886 e 1910. amistad, iberismo e espíritu de reforma educativa". por si só, a leitura deste texto promete; e promete na medida em que também preparo um trabalho no âmbito da educação prática, tendo sido esta mesma perspectiva educacional que juntou giner de los rios e bernardino machado para uma amizade não só pessoal, mas também cívica e pedagógica. o estudo de otero urtaza encontra-se publicado na "revista de pensamento do eixo atlântico", n.º 4 de 2003. foi uma agradável surpresa. a outra surpresa do dia foi o início da leitura do livro publicado entre nós de milan kundera "um encontro": mais do que o simples encontro de kundera, é, isso sim, uma série de encontros leitorais e estéticos do próprio kundera com os seus escritores e pintores preferidos. abre com uma reflexão do pintor francis bacon, recuperando uma antiga reflexão. não concordo com algumas afirmações de kundera, mas termina as suas breves reflexões em beleza. o meu contacto com a obra de francis bacon foi na faculdade, já que tive de fazer um trabalho sobre a sua linguagem estética, servindo-me para isso de um livro de delleuze, do qual agora não me lembro do título. cita uam entrevista de bacon, o qual nos diz tudo sobre a sua estética pictorial: "uma forma orgânica que remete para a imagem humana mas em completa distorção." kundera considera que o que temos em bacon é a "interrogação sobre os limites do «eu»". contudo, considero que em bacom não há limites. o que temos em bacon é a transfiguração do humano, o outro lado da moeda, a aparência do corpo deambulante. não há fronteiras na estética de bacon: o que temos é o outro lado do humano na sociedade contemporânea, a sua desfiguração. nem sequer temos o possível "alegre desespero" de kundera. mas kundera, como disse, termina em beleza. registo aqui esta sua reflexão, perante a qual somos um corpo sem interioridade: "Não é pessimismo nem desespero, é uma simples evidência que, em geral, velada pela nossa pertença a uma colectividade que nos cega com os seus sonhos, as suas excitações, os seus projectos, as suas ilusões, as suas lutas, as suas causas, as suas religiões, as suas ideologias, as suas paixões. E depois, um dia, o véu cai e deixa-nos a sós com o corpo...", seres humanos deambulando com o corpo. e o que fica para além do corpo? o rosto: "o rosto no qual fixo o meu olhar a fim de nele encontrar uma razão para viver". rostos desfigurados.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

XX


simplesmente sonhar

sonhar intermináveis

para nada

por tudo

afinal de contas pela vida

sonhar sonhando

assim

acordado

na terra

assim

entre sermos grandes pequenos e nada

no paraíso de nós

mundo

assim vivendo

sonhar sonhando

entre segredos e sinais

não revelados que se revelam

sonhar sonhando

sonhos que não se vivem

mesmo estando

silêncio

sonhar sonhando

assim sem jeito

domingo, 3 de abril de 2011

XIX


com o f. c. do porto campeão, e parabéns ao porto, só é pena que haja sempre desacatos e com uma força policial que está sempre presente nestes momentos, e não noutros, não me parece que com estes censos de 2011 se vá encontrar, de facto, a realidade de portugal, até porque, que raio interessa saber onde estávamos às zero horas do dia 21 de março, se estávamos ou não no alojamento, em casa, ou seja onde? a realidade de portugal continua para ser descoberta.

XVIII


e para esquecer esta crise que já nos considera, e nos consideram, lixo, salvo seja, ao ponto onde chegamos, santa engrácia, só que se esquecem que o lixo é reciclado, pois está claro, e já não há paciência para estes políticos de meia-tigela, dizem que é um novo ciclo, não me parece, o ciclo vai ser o mesmo, as mesmas patacoadas, o mesmo jogo, quer a esquerda quer a direita vão continuar com o seu pingue-pongue um tanto ou quanto estúpido, enfim, já não há paciência, de facto, esta estrelícia cá de casa para glorificar abril que começou um sol fabulástico e hoje, domingo, não está mal.