Opinião Pública (26 Jan. 2011), p. 23
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
domingo, 23 de janeiro de 2011
VII
no princípio era o verbo. a linguagem, o verbo que nomeia, o dedo de deus que nomeia na visão de miguel ângelo. nós não nomeámos, nós não nos nomeámos, já estamos nomeados. quem nomeia, na metáfora invisível do cristianismo, a grande metáfora, é deus; e porque é que não nomeámos? porque o mundo não se idendifica com o mundo de deus. o nosso mundo, o da exterioridade, é o reverso da medalha, o outro lado, o que está para lá de nós. o mundo não nomeia: renomeia o que já está nomeado, não identificando a nomeação, antes a supõe inonicamente. não constrói, desconstrói. o que é constrói e desconstrói? o humano, apesar de todas as construções. serve isto d epropósito para um argumento, na medida em que pretende renomear algo, de preferência com sentido perante mundos referenciados, interioridade e exterioridade. o verbo apenas os nomeia, reorganiza-os.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
VI
e hoje lá tivemos até um dia maravilhoso, um raiozito de sol nada mau, uma fresca matinal, um fim do dia também fresco, mas nada de exagerar como alguns transeuntes, de sobretudo e cascol, até parece que vinham do pólo norte, um dia até bem agradável, por sinal, acabando por estar um dia corajoso, colocando no rosto dos caminhantes que caminhavam um ar até mais bem dispostinho para encarar o quanto este governo socialista nos vai tirar no vencimento que aí se avizinha!
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
V
e depois de um dia de trabalho, chega-se a casa, e chegámos ao mundo, como se o outro também nosso não fosse, que é nosso, único e pessoal, os livros ficam contentes em nos ver, o cansaço do final do dia de um trabalho fica amenizado, e mais sossegadinho se fica. coloco aqui hoje alguns dos livros que ando a ler, sempre tive o hábito de ler muitos ao mesmo tempo, às vezes lá se aborrrece com a leitura de um, pega-se noutro, lá se voltará ao inicial, ao ciclo, e assim infinitamente, e eles não ficam zangados por isso, antes pelo contrário, ficam sempre em expectativa que lá se pegue nele para novas descobertas deste mistério, senão mistérios humanos e terrenos, sublinhando, não é nenhuma heresia, escrever neles, aqueles apontamentos que surgem de momento com a leitura após o café e um cigarro, outra heresia, devem pensar outros, e assim o mundo, o nosso caminho, calmamente, sem desassossego. às vezes, sim, lá desassossegado se fica, coisas da vida, ou por nós, ou pelos outros, ou não sei porque tem de haver outra razão ou que tenha de haver razões para andarmos ensimesmados, abstraídos do mundo, de nós em suspensão no mundo talvez, e depois regressamos a este mundo.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
IV
e hoje alguns raios de sol, para esquecer esta realidade. outro factor para nos elevar até a uma certa contemplação do mundo: preparo a conferência sobre os filósofos e o amor, para a abertura do III filo-café da associação portuguesa de ética e filosofia prática. leitura, senão mesmo releitura, do diálogo platónico "o banquete". aristófanes actualíssimo.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
III
"O verdadeiro mistério do mundo é o visível, e não o invisível."
Oscar Wilde
O que temos em epígrafe de Oscar Wilde representa verdadeiramente o maior drama da humanidade, a duplicidade do ser humano, naquilo que aparentemente o ser humano pode ser e não ser, entre a não revelação e a revelação dramática, particularmente, que o mistério não é divino, mas que o mistério é humano. A história o comprova, nas suas inglórias tragicidades. Mas antes de entrar no que gostaria de falar, indirectamente já lá estamos, cito Hannah Arendt, a qual, através de Sócrates, nos evidencia esta duplicidade do humano: «No Górgias, Sócrates, ao ter de enfrentar a natureza paradoxal da sua tese e a sua incapacidade de persuadir, tem a seguinte réplica: em primeiro lugar, diz que Cálicles não pode «estar de acordo consigo próprio, mas se contradirá a si próprio na sua vida». E, depois, acrescenta que, pelo seu lado, acredita que «seria melhor para mim que a minha lira ou um coro por mim dirigido estivessem fora do tom e cheios de sons discordantes, e que a maioria dos homens não concordasse comigo e me contradissesse, do que ser eu, que sou um, a perder o tom comigo e a contradizer-me a mim próprio». Ser eu, que sou um, contradizer-me a mim próprio... A grande questão que aqui está patente é uma questão ética entre o sermos nós próprios e sermos nós próprios num outro que se encontra escondido (Borges e Pessoa foram múltiplos e foram eles próprios), sermos outros que não nós, sermos múltiplos em nós sem o sermos. A famosa máscara humana. Esta simples reflexão leva-nos ao homicídio de Renato Seabra (ninguém ficou indiferente, o pior crime seria a indiferença), o pacato, o soosegado, perante Carlos Castro, representando Seabra a impossibilidade do acontecer do outro, do que está em nós, neste caso a barbaridade do ser humano. A nível local, também falado na imprensa, jornais e televisão, mas não tendo o mesmo eco que o primeiro caso, e tambem ninguém ficou indiferente, fala-se nos cafés de ambos os casos, foi a nótícia do marido que fazia a mulher prostituir-se com outros, filmando as cenas sexuais e vendendo os filmes. O que surprendeu a polícia foi o armamento que o indivíduo tinha em casa; a nós surpreende-nos um caso mais, em que a colectividade deixou andar durante vinte anos tal situação. Estamos perante a ética da responsabilidade perante a comunidade em que estamos inseridos. Temos, portanto, uma reflexão individual e colectiva, perante seres humanos desprotegidos, na medida em que a barbaridade do ser humano atinge limites incontornáveis perante aquilo que o ser humano poderá ser ou não ser. Se nós não sabemos quem somos, quem saberá? Os outros por nós? Impensável! Estamos perante dois casos com aquilo que o ser humano é, o desconhecido eterno de si mesmo, situado entre uma fronteira que quando é ultrapassada explode com resultados inimagináveis. A falta de comunicação entre os seres humanos, realidade cada vez mais plausível, leva, muitas vezes, ao horror do outro lado da indiferença colectiva perante o segundo caso. O crime da sociedade contemporânea é, precisamente, este: o da indiferença entre o que se diz e o que não se diz: o mas provável, muitas vezes, não é com o que não se diz, mas sim com o que se diz, com o que se revela. A citação de Arendt é retirada do texto "Algumas Questões de Filosofia Moral" e encontra-se no livro "Responsabiidade e Juízo". Indispensável a sua leitura! Não me apetece falar da hipocrisia desta campanha presidencial: o fait-divers já está encontrado para se esquecer a realidade de um país à deriva!
sábado, 8 de janeiro de 2011
II
numa altura em que coloquei a visionar o regresso de superman, e de vez em quando lá se olha, assim como também a chuva parece ter acalmado, após uma manhã de soninho que já era bem precisa, e depois sempre a chover, nada como recolocar aqui este texto de outros tempos, perante a ideia principal de montaigne. começa assim. primeiro apontamento. sem data, sem hora, sem minutos, sem referência se foi escrito de manhã, a meio da manhã, antes do almoço ou durante o almoço, ao príncipio da tarde, a meio da tarde, ao fim da tarde, antes ou depois do jantar, ou quando nos instalamos definitamente no descanso e asim nos sentimos reis e príncipes de nós mesmos, na célebre ideia de montaigne, para prescrutarmos outro mundo que não é o nosso, mas que acaba por ser ele mesmo, mundo em nós. definitivamente mundo sonhado. eis a aristocracia da leitura. agora, acrescento, será possivelmente a aristocracia do blog, dos blogs, a leitura permanece sempre ela igual a si própria e diferente, cada livro e cada palavra sempre igual e diferente, e assim se sonha, no que depois se transmite ou se pretende transmitir na fruição da palavra.
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
I
no "escrito na pedra" de hoje do jornal "público" temos esta frase de georges sand: "a aventura não está fora do homem, está dentro." diria que a aventura desta caminhada nossa no mundo está tanto dentro, como fora de nós. senão ficaríamos incompletos. e porque estamos no mundo criamos. mesmo sózinhos, o mundo espera por nós, não somos nós que esperamos pelo mundo, e criamos. senão criamos, é o desespero kierkegaardiano. a frase do p2 de hoje relaciona-se com as aventuras de scott e amundsen pela corrida ao pólo sul. o pensamento de sand, que corrigimos, tem a ver com o que dissemos: estamos no mundo, dentro e fora, na conquista de sermos outros. irresistivelmente. para conquistarmos o mundo, não só em nós.
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